Jéferson Dantas[1]
No dia 9 de julho, na seção 'Opinião' do Jornal Notícias do Dia, um jovem historiador saiu em defesa da meritocracia como motivação para o melhor desempenho dos/as trabalhadores/as em educação em Santa Catarina. Assentado em lugares-comuns e desconsiderando as razões estruturais da greve do magistério catarinense em curso, o historiador começa o seu texto com a seguinte afirmação: “[...] a sociedade catarinense foi surpreendida pela continuidade da greve na educação. Após uma série de negociações e a garantia por parte do governo do Estado do cumprimento da lei do piso, esperava-se que os professores também se preocupassem com os alunos e retomassem as atividades”.
De acordo com a afirmação acima - ao colocar palavras na boca da ‘sociedade catarinense’, que fatalmente inclui seus professores – o articulista sai em defesa das ‘garantias governamentais’ em relação ao cumprimento da lei do piso nacional salarial. É de se supor que aqui o referido historiador não age por ingenuidade. Defende no final de sua breve reflexão a ‘implantação da progressão funcional por mérito’, mesma estratégia defendida em São Paulo por Paulo Renato Souza, então secretário de educação daquele estado.
Concordo, porém, que os/as trabalhadores/as em educação devem ser avaliados/as com critérios estabelecidos de forma coletiva (comunidades escolar e local) em seus espaços de trabalho, aliás, condição precípua do compromisso social e público. Entendo que a conformação dos saberes dos/as educadores/as são extremamente decisivos na reformulação de currículos rígidos, concorrendo para uma estratégia de implosão lúcida de mecanismos avaliativos arbitrários na educação formal. A educação básica pública, nos moldes em que se encontra no estado de Santa Catarina, todavia, tem reduzido sobremaneira a capacidade de intervenção de educadores e educandos, já que as unidades de ensino vêm sendo tratadas como instituições eivadas de cargos comissionados e de confiança do governador, esvaziando a sua intencionalidade pedagógica.
Se ficarmos apenas na questão de quem ‘ensina melhor’ e de quem ‘ensina pior’ (um maniqueísmo mecanicista e determinista) não conseguiremos visualizar de forma mais ampla as condições de trabalho pelas quais os dois perfis de trabalhadores são submetidos. Como já foi revelado em extensa pesquisa organizada pelo psicólogo Wanderley Codo no final da década de 1990, mesmo os ditos ‘bons professores’ com o passar dos anos vão se tornando cínicos, desmotivados, exaustos emocionalmente e despersonalizados. Cabe lembrar que a formação continuada em Santa Catarina nos últimos oito anos foi praticamente inexistente. Logo, preocupar-se com a ‘qualidade da educação’ em Santa Catarina, significa compreender a complexidade das relações de trabalho nestes espaços sociais e não culpabilizar os/as professores/as pela má qualidade de ensino. O modelo de educação estatal catarinense tem primado pela gestão tarefeira e antidemocrática, além da exploração incessante de uma força de trabalho intelectual precarizada e que na medida do possível é responsável direta pela formação das novas gerações neste estado.
[1] Historiador, Mestre em Educação e Doutorando em Educação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisador e articulador dos estudos do currículo na Comissão de Educação do Fórum do Maciço do Morro da Cruz (CE/FMMC). E-mail: clioinsone@gmail.com.
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