Por Jéferson Dantas[1]
Nos últimos dias a tevê Globo tem veiculado em seu telejornal noturno (Jornal Nacional) matérias referentes à educação pública nacional, relatando os dados do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de determinadas escolas, seus dilemas, desafios e histórias de superação. No enredo teledramatúrgico tão próprio deste jornal de variedades eletrônico, ‘especialistas’ em educação são convidados para comentar as experiências educativas nas unidades de ensino com melhor e pior desempenho no IDEB em diferentes regiões do Brasil. Os ‘experts’ educacionais têm, em grande medida, formação em economia e, é a partir desta perspectiva (economia educacional), que taramelam sobre os rumos da educação em nosso país. Toda esta articulação em torno da ‘qualidade da educação nacional’ que envolve o Estado e o empresariado nacional vem desde 1990, quando o Brasil foi signatário da Declaração Mundial ‘Todos pela Educação’, em Jomtien, na Tailândia.
A reestruturação produtiva do capital nas últimas décadas tem exigido uma força de trabalho mais flexível e uma escolarização básica um pouco acima daquela que se demandava nas décadas de 1970 e 1980, quando a “Teoria do Capital Humano” estava em seu auge. Sob o manto da qualidade total, tão comum no jargão empresarial, o capital percebeu que a força de trabalho nacional se ressentia dos poucos anos de estudo ou de uma escolarização precária que, longe de ser desprezada, atendia apenas um determinado segmento de seu setor produtivo. O que não se discute, efetivamente, nas matérias veiculadas pelo Jornal Nacional é a precarização e a intensificação do trabalho docente como um todo, que percebe salários indecentes e em muitos casos as piores condições de trabalho possível. Neste caso, ficam subentendidas as ‘histórias de superação’ através do voluntariado, presença das famílias e a desresponsabilização estatal. O modelo educativo público a ser seguido, conforme um dos ‘experts’, é o mesmo das escolas privadas. Ou seja: se a escola pública vai mal é porque os professores não se esforçam o suficiente, além de conduzirem suas práticas pedagógicas de forma muito ideologizada (e isto é péssimo para o capital).
Logo, se não são discutidas as premissas do modelo econômico vigente (o capitalismo), como exigir da escola pública a solução dos problemas da violência, do desemprego, da miséria, do narcotráfico e do meio ambiente, se a mesma é socialmente determinada pela lógica do capital? Ao tomar a escola como ‘determinante’ e não como ‘determinada’ pela violência estrutural do capital, só é possível concluir que o cinismo é a resposta mais adequada para os problemas educacionais do Brasil. Em outras palavras, exige-se da educação pública o ‘máximo’ com investimento ‘mínimo’, e disto os economistas entendem bem.
[1] Historiador e Doutorando em Educação (UFSC). Articulador e consultor pedagógico das escolas associadas à Comissão de Educação do Fórum do Maciço do Morro da Cruz, Florianópolis/SC. E-mail: clioinsone@gmail.com
jeferson, assisti as mesmas matérias e concordo plenamente com o que você escreveu, que por sinal é uma discussão antiga. O que me preocupa é também a forma como se está avaliando a escola: IDEB. Avaliar as escolas é apenas verificar notas altas das crianças, pelo menos foi a impressão que as reportagens da globo me passaram. Culpabilizou professores e escolas por fracassos ou sucessos. É o professor que se esforça, é o diretor que é criativo. Sabemos que não é tão simples e não é só isso. Me espantou quendo estanpopu que no RGS os professores ganham 3000 e em São Paulo ganham 18oo, enfim não sei como a população recebeu essas notícias e em tempos de luta pelo piso pode colocar a opinião pública contra o movimento. E o problemas maior são os próprios professores que podem ser cooptados pelo discurso do esforço individual e da criatividade, e não conseguir fazer uma leitura mais profunda das questões da educação. O problema é que também não basta só aumentar salário, temos que discutir que escola queremos, para quê queremos e fazer as comunidades participarem desa discussão.
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