Por Jéferson Dantas[1]
Num período inferior a quatro anos, o estado de Santa Catarina foi responsável pelo fechamento de três escolas públicas que atendiam, principalmente, crianças e jovens das comunidades dos morros do maciço em Florianópolis. As escolas fechadas foram: Antonieta de Barros, Silveira de Souza e Celso Ramos. A escola Antonieta de Barros está sendo utilizada como anexo da Secretaria de Estado da Educação; a escola Silveira de Souza está sendo subutilizada pelo poder público municipal; e, por fim, a escola Celso Ramos se transformou em anexo da Assembleia Legislativa para abrigar novos gabinetes dos deputados estaduais e os seus assessores.
As comunidades do Mocotó, Prainha e Queimada, notadamente, foram ludibriadas pelo poder público, ao terem a confirmação de que a escola Celso Ramos se transformaria numa creche. Em relação a todos estes aspectos aventados, fica-nos a sensação nítida da desresponsabilização estatal em relação à educação pública, principalmente para aqueles e aquelas que mais necessitam de formação escolarizada. A população do Maciço do Morro da Cruz beira aos 35 mil habitantes, contingente que tende a se ampliar nos próximos anos. E, sem escolas próximas do entorno do maciço, para onde vão estas crianças e jovens?
A falácia de um poder público inepto e que apresenta sérios problemas de comunicação entre as suas secretarias e agências educacionais (Secretaria de Educação, Secretaria de Desenvolvimento Regional e Gerência Regional de Educação), revela ainda o indisfarçável preconceito de classe. Um dos motivos do fechamento da escola Celso Ramos, por exemplo, seria o ‘problema da violência escolar’, como se a mesma estivesse descolada da violência estrutural operada pelo modelo econômico vigente, o que implica adequada infraestrutura nas comunidades dos morros, oportunidades de trabalho e renda, saúde e, evidentemente, ótima escolarização. Via de regra, escolas que atendem comunidades periféricas recebem a pior estrutura educacional possível; os/as professores/as mais despreparados/as; e um modelo curricular completamente distante dos códigos culturais trazidos por estas crianças e jovens.
Situações como essas potencializam um maior número de analfabetos e analfabetos funcionais. Crianças e jovens sem escolarização estão mais vulneráveis aos riscos sociais, incluindo o narcotráfico. Em outras palavras, quais são as prioridades de Santa Catarina para este público escolar e para a educação pública de uma maneira geral? Esperar-se-á novas tragédias para que se tome alguma providência?
[1] Historiador e Doutorando em Educação (UFSC). Articulador pedagógico das escolas associadas à comissão de educação do Fórum do Maciço do Morro da Cruz (CE/FMMC). E-mail: clioinsone@gmail.com
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